Crédito da foto: Geledés Instituto da Mulher Negra |
Olá meus amores!
O assunto hoje é bem complexo e por esse motivo vou tentar passar
o meu ponto de vista sobre ele. Ok? Então vamos lá...
Eu tenho certeza que muitos de vocês já passaram ou passam
por situações parecidas com as que vou descrever aqui. Por muito tempo fui considerada pelas pessoas como sendo “parda”. Tenho os cabelos crespos,
mas o tom da minha pele não é tão escuro.
Eu mesma não sabia bem como me definir, pois como vocês
sabem (e foi dito no primeiro post do meu blog acesse aqui), eu passei por um processo de “embranquecimento”. Alisava os cabelos,
e como minha pele não é tão escura, até eu me
considerava “parda”. E assim fui
levando a vida, sem saber de fato minha verdadeira identidade. Todos me
chamavam de morena, moreninha, mulata...E eu não via problema nisso.
Até que em abril de 2015, quando comecei a minha transição
capilar, comecei a me olhar no espelho e não me reconhecer mais (o que também
foi dito no primeiro post).
Comecei a olhar para meu cabelo natural e identificar ali a
minha ancestralidade, minha origem étnica.
Foi aí que comecei a pesquisar, a entender essa questão e me
engajar mais. E sim, me reconheci como mulher NEGRA.
Entretanto, muitas pessoas se voltaram para mim e indagavam:
mas você nem é negra! E eu respondia: Oi? Como assim? Olha para mim, para meu
cabelo, para meus pais e meus avós.
E então surgiu o questionamento: Sou negra o suficiente para
ser alvo de piadas racistas, mas não negra o suficiente para lutar contra o
racismo?
É nesse ponto do texto que chegamos à discussão
acerca do colorismo, que se
caracteriza pela hierarquização de tons de pele, fator determinante para o grau
de discriminação que uma pessoa negra pode sofrer.
Vamos voltar à origem de tudo. A mestiçagem
começou com escravas negras sendo estupradas pelos seus senhores, gerando os “mulatos”. Isso faz parte de um processo
histórico de subjulgação das pessoas negras.
Vamos continuar a raciocinar...
Ao olhar hoje a sociedade, vocês conseguem perceber como o racismo
é estrutural e multifacetado?
O racismo não se dá apenas através da injúria. Ele se dá
também através de práticas excludentes, principalmente pela via cultural,
social e estrutural. Ele é um sistema impregnado em toda a estrutura da
sociedade e tem influência direta na forma como construímos a imagem das pessoas
negras.
É um sistema de sobreposição de uma raça sobre outra, que
vai garantir uma série de privilégios para pessoas brancas e vai negar outros
para pessoas “de cor”. Essa imagem social da negritude e esses privilégios vão
ter impacto na sociedade. As manifestações de racismo vão variar de acordo com
a leitura social que você recebe. Com a aparência, cor de pele e a presença ou
ausência desses traços.
O colorismo faz
com que o racismo seja pigmentocrático, ou seja, vai variar conforme a melanina
da sua pele. Quanto mais você tem, maior a sua chance de ser vítima de preconceito. Assim como a gente tem várias tonalidades de pele, a gente vai ter várias
formas de manifestação do racismo. E essa pode ser a explicação para que eu
tenha sofrido preconceito muito mais por causa do meu cabelo crespo, pois sou lida socialmente como “negra de pele clara” e tenho traços e feições considerados finos.
Por que? Por causa do colorismo.
A quantidade de melanina na minha pele e a ausência ou presença de alguns
traços e características influem nas manifestações de racismo que eu sofro. É
por isso que temos que entender essas questões, buscar ter empatia. Eu, por
exemplo, sei que uma mulher negra, com tom de pele escuro, traços e feições mais
marcantes, cabelo mais crespo, sofreu, sofre e sofrerá mais com o racismo do
que eu. Isso é um fato, que não desmerece o que já passei, passo e vou passar. Isso
não invalida todo o preconceito que foi manifestado a mim e nem enfraquece a
minha luta no combate ao racismo. Mas me mostra que sim, existem diferentes manifestações
de racismo e elas são muito baseadas no colorismo.
Detectaram o quanto nosso racismo é embranquecedor?! A
sociedade vai encontrar toda forma de mecanismo para afastar a gente de uma ideia
de negritude, porque a negritude é vista como ruim, como feia e como suja.
E então, para finalizar, como defino se eu sou ou não sou
negra?
Leve em consideração sua origem, cor, traços, leitura
social, situações que já vivenciou. Tudo isso pesa nesse processo de
reconhecimento como uma pessoa negra.
Tudo isso é importante, porque quando a gente reconhece a nossa identidade étnico-racial, a gente entende e reconhece o racismo, a gente começa a compreender um pouco mais como essas violências cotidianas funcionam e ganha um pouco mais de ferramentas para combater isso e o combate ao racismo é bom para todo mundo, vai fazer a nossa sociedade melhor e mais igualitária. Vai trazer mudanças que vão melhorar a vida em comum.
Tudo isso é importante, porque quando a gente reconhece a nossa identidade étnico-racial, a gente entende e reconhece o racismo, a gente começa a compreender um pouco mais como essas violências cotidianas funcionam e ganha um pouco mais de ferramentas para combater isso e o combate ao racismo é bom para todo mundo, vai fazer a nossa sociedade melhor e mais igualitária. Vai trazer mudanças que vão melhorar a vida em comum.
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