sexta-feira, 22 de abril de 2016

Seu cabelo suas regras! O movimento pelo cabelo natural não é opressor, pelo contrário, é LIBERTADOR!


Olá encaracoladas! A inspiração para esse post surgiu após conversa com algumas conhecidas, onde elas me falaram que se sentiam mal por estarem alisando os cabelos e por esse motivo preocupadas por acharem que a valorização do cabelo natural está oprimindo e fazendo elas se sentirem menos empoderadas.

Meninas, não se sintam assim! Isso não existe! Vocês não são menos negras e nem menos empoderadas porque alisam, relaxam ou fazem escova no cabelo! Entendam que esse movimento de valorização do uso do cabelo natural é libertador. Ele é bom para todas nós, sejamos naturais ou alisadas, porque ele aponta para um momento na sociedade em que estamos livres para usarmos nosso cabelo como quisermos. Passamos uma vida sendo condicionadas pela ditadura do cabelo liso e agora, finalmente, se não quisermos mais podemos usá-lo natural. É isso! E esse é um direito nosso! A sociedade não pode impor padrões à nossa estética. Essa é uma escolha de cada uma. 


Como sabemos, o cabelo crespo e cacheado sempre foi motivo de piada, deboche, chacota e preconceito. Muitas de nós cresceram achando que a única solução existente era alisar os cabelos. Desde sempre ouvimos que cabelo de preto é ruim, duro e parece ´Bombril´. Quantas de nós sofreram bullying na escola e dessa forma, foram inevitavelmente apresentadas ao racismo, da forma mais perversa, ainda na infância. E isso é algo marcante. Esses fatos deixam cicatrizes e contribuem para que tenhamos uma visão distorcida de nós mesmas.

Além de tudo, ao buscar referências, não as encontrávamos e ainda dificilmente encontramos. Ao ligar a televisão, na maioria mulheres brancas e de cabelos lisos nos papéis de destaque. As negras de cabelos crespos ainda são minoria mesmo em um país onde a maior parte da população é negra. E nas propagandas publicitárias, anúncios de cosméticos e cabelos trazem predominantemente cabelos longos e lisos como sinônimos de bonito e saudável. Nossas bonecas, sejam Barbie ou não, eram todas loiras de olhos azuis e as crianças de hoje ainda passam por isso. Enfim, nós não nos reconhecíamos e ainda não nos reconhecemos.

Não havia e ainda não há representatividade. Parem para pensar! Isso mexe com a autoestima da criança, que já cresce achando que o problema é ela. A sociedade o tempo inteiro impõe padrões e nós, definitivamente, estamos fora. O padrão que a sociedade sempre impôs é o eurocêntrico. Mas como assim? A maioria da população brasileira é afrodescendente. Então que padrão é esse?! Ah...deve ser porque não pega bem ser descendente de africanos, né?! Povo que foi subjulgado, escravizado, colocado à margem da sociedade e que até hoje sofre as mazelas e desigualdades de tamanha crueldade. Dessa forma, a sociedade brasileira preferiu “embranquecer” a nossa cultura.

Essa padronização é ruim por si só, e além de tudo também é uma forma de lucro. Imaginem quanto dinheiro ganhava, e ainda ganha, a indústria de cosméticos com as escovas progressivas e produtos de alisamento??? Milhões e milhões. Mas se você está feliz assim, ok. Quem decide o que é melhor para você é você mesma.

O importante é saber reconhecer que isso deve ser uma opção e não uma imposição, pois para a maioria, quase 100% de nós, alisar os cabelos nunca foi uma escolha. Foi uma imposição de uma sociedade preconceituosa e racista. Hoje, lutamos pela liberdade de sermos quem somos e de usarmos nossos cabelos do jeito que bem entendermos. Temos mais informação e discernimento. Cada vez mais se preza o respeito às diferenças, o respeito ao próximo e às suas características. E por esse motivo, muitos questionam a existência de padrões pré-estabelecidos pela sociedade. E o resultado disso são negros e negras sentindo orgulho de sua cor de pele, de seu cabelo e de sua ancestralidade. É um resgate da autoestima. É quando “cai a ficha” de que tudo que ouvimos durante uma vida inteira não era verdade. Não existe cabelo ruim. Existem diferentes tipos de cabelo.

É por isso que a valorização do cabelo natural é libertadora, porque ela te dá a opção de usá-lo natural, se assim você desejar. Muito diferente da ditadura do cabelo liso, que nos fez acreditar que nossa única opção seria alisar os cabelos. Portanto, não se sinta obrigada a usar seu cabelo natural, nem se sinta menos negra e menos empoderada por alisá-lo. Empoderamento vai muito além disso. 

Quando você entende tudo o que eu disse aqui e percebe a importância que a valorização de nossas características tem você se empodera, pois tem consciência de que finalmente estamos lutando para sermos quem somos. Estamos reafirmando a nossa identidade e isso é libertador para todos nós. Com essa consciência escolhemos o que fazer com nossas vidas por opção e não por imposição. Alisamos ou deixamos natural porque queremos e nos sentimos bem assim e não para sermos aceitas e adequadas aos padrões impostos pela sociedade. Essa vitória é nossa! Todas nós saímos ganhando!



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