Olá encaracoladas! A inspiração para esse post surgiu após
conversa com algumas conhecidas, onde elas me falaram que se sentiam mal por
estarem alisando os cabelos e por esse motivo preocupadas por acharem que a
valorização do cabelo natural está oprimindo e fazendo elas se sentirem menos
empoderadas.
Meninas, não se sintam assim! Isso não existe! Vocês não são
menos negras e nem menos empoderadas porque alisam, relaxam ou fazem escova no
cabelo! Entendam que esse movimento de valorização do uso do cabelo natural é
libertador. Ele é bom para todas nós, sejamos naturais ou alisadas, porque ele aponta
para um momento na sociedade em que estamos livres para usarmos nosso cabelo
como quisermos. Passamos uma vida sendo condicionadas pela ditadura do cabelo
liso e agora, finalmente, se não quisermos mais podemos usá-lo natural. É isso!
E esse é um direito nosso! A sociedade não pode impor padrões à nossa estética.
Essa é uma escolha de cada uma.
Como sabemos, o cabelo crespo e cacheado sempre foi motivo
de piada, deboche, chacota e preconceito. Muitas de nós cresceram achando que a
única solução existente era alisar os cabelos. Desde sempre ouvimos que cabelo
de preto é ruim, duro e parece ´Bombril´.
Quantas de nós sofreram bullying na escola e dessa forma, foram
inevitavelmente apresentadas ao racismo, da forma mais perversa, ainda na
infância. E isso é algo marcante. Esses fatos deixam cicatrizes e contribuem
para que tenhamos uma visão distorcida de nós mesmas.
Além de tudo, ao buscar referências, não as encontrávamos e
ainda dificilmente encontramos. Ao ligar a televisão, na maioria mulheres
brancas e de cabelos lisos nos papéis de destaque. As negras de cabelos crespos
ainda são minoria mesmo em um país onde a maior parte da população é negra. E
nas propagandas publicitárias, anúncios de cosméticos e cabelos trazem
predominantemente cabelos longos e lisos como sinônimos de bonito e saudável. Nossas
bonecas, sejam Barbie ou não, eram todas loiras de olhos azuis e as crianças de
hoje ainda passam por isso. Enfim, nós não nos reconhecíamos e ainda não nos
reconhecemos.
Não havia e ainda não há representatividade. Parem para
pensar! Isso mexe com a autoestima da criança, que já cresce achando que o
problema é ela. A sociedade o tempo inteiro impõe padrões e nós,
definitivamente, estamos fora. O padrão que a sociedade sempre impôs é o
eurocêntrico. Mas como assim? A maioria da população brasileira é
afrodescendente. Então que padrão é esse?! Ah...deve ser porque não pega bem ser descendente de africanos, né?! Povo que foi subjulgado, escravizado, colocado à margem da sociedade e que até hoje
sofre as mazelas e desigualdades de tamanha crueldade. Dessa forma, a sociedade brasileira preferiu “embranquecer” a nossa cultura.
Essa padronização é ruim por si só, e além de tudo também é uma
forma de lucro. Imaginem quanto dinheiro ganhava, e ainda ganha, a indústria de
cosméticos com as escovas progressivas e produtos de alisamento??? Milhões e
milhões. Mas se você está feliz assim, ok. Quem decide o que é melhor para você
é você mesma.
O importante é saber reconhecer que isso deve ser uma opção
e não uma imposição, pois para a maioria, quase 100% de nós, alisar os cabelos
nunca foi uma escolha. Foi uma imposição de uma sociedade preconceituosa e
racista. Hoje, lutamos pela liberdade de sermos quem somos e de usarmos nossos
cabelos do jeito que bem entendermos. Temos mais informação e discernimento. Cada
vez mais se preza o respeito às diferenças, o respeito ao próximo e às suas
características. E por esse motivo, muitos questionam a existência de padrões
pré-estabelecidos pela sociedade. E o resultado disso são negros e negras sentindo
orgulho de sua cor de pele, de seu cabelo e de sua ancestralidade. É um resgate
da autoestima. É quando “cai a ficha” de que tudo que ouvimos durante uma vida
inteira não era verdade. Não existe cabelo ruim. Existem diferentes tipos de
cabelo.
É por isso que a valorização do cabelo natural é
libertadora, porque ela te dá a opção de usá-lo natural, se assim você desejar.
Muito diferente da ditadura do cabelo liso, que nos fez acreditar que nossa
única opção seria alisar os cabelos. Portanto, não se sinta obrigada a usar seu
cabelo natural, nem se sinta menos negra e menos empoderada por alisá-lo. Empoderamento
vai muito além disso.
Quando você entende tudo o que eu disse aqui e percebe a
importância que a valorização de nossas características tem você se empodera,
pois tem consciência de que finalmente estamos lutando para sermos quem somos.
Estamos reafirmando a nossa identidade e isso é libertador para todos nós. Com
essa consciência escolhemos o que fazer com nossas vidas por opção e não por
imposição. Alisamos ou deixamos natural porque queremos e nos sentimos bem
assim e não para sermos aceitas e adequadas aos padrões impostos pela
sociedade. Essa vitória é nossa! Todas nós saímos ganhando!
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