Olá encaracoladas(os)!
Se liguem nesta maravilhosa dica cultural para quem mora no Rio de Janeiro:
"Eu amarelo": nova peça sobre a ex-catadora de papel que se transformou na maior escritora negra do país no século XX entrará em cartaz no Sesc Tijuca
Nova peça teatral, com direção de
Isaac Bernat, apresenta um retrato contundente da ex-catadora de papel que se
transformou na maior escritora negra do país do século XX: best seller
com mais de um milhão de exemplares vendidos, traduzido em 13 idiomas para 80
países. Carolina Maria de Jesus devotava a sua vida a um propósito: seu amor à
literatura que a fez tirar do lixo as palavras, e das palavras, uma forma de
combater as desigualdades do mundo. Não é à toa que Carlos Drummond de
Andrade a considerou "a mais necessária e visceral flor do lodo".
O livro "Quarto de Despejo"
serviu de base para a adaptação teatral e evidencia as inquietudes sociais e as
experiências emocionais de quem vive na falta, também aponta a trajetória ímpar
da escritora que deixou mais de 4.500 páginas em seus manuscritos, ainda à
espera de publicação. O texto, com dramaturgia de Elissandro de Aquino, é
composto por fragmentos do amplo legado de Carolina que inspira autores como
Conceição Evaristo e Elisa Lucinda.
O diretor Isaac Bernat assumiu o
desafio, que segundo ele é uma "responsabilidade e um presente. Neste
momento tão desesperançado de nosso país, o exemplo de superação que Carolina
nos mostra é um estímulo para que todos os oprimidos e excluídos continuem a
acreditar em seus sonhos e desejos. Como diretor, recebo outro presente, que é
o de pode contar com a maestria, profundidade e talento de uma atriz como Cyda
Moreno. Vamos contar esta historia priorizando o essencial, ou seja,
acreditando na força e no poder que o teatro tem de tocar as pessoas. Com a
parceria de Sérgio Marimba e Margot Margot, dois artistas visuais viscerais e
ousados, vamos construir a beleza deste universo tão duro e ao mesmo tempo tão
poético, tudo isto iluminado pela maestria de Aurélio de Simoni".
A atriz Cyda Moreno, que dá voz à
Carolina cita que "das entranhas de suas múltiplas misérias, e de
seus múltiplos talentos; da sua fome de comida, de espaço, de justiça, de
igualdade e de democracia, Carolina extraiu poesia e lirismo para fazer ressoar
as misérias do povo da favela. Sua literatura repleta de erros de grafia, é
peculiar, é recheada de palavras rebuscadas e profundas e reflete as inúmeras
fomes do nosso povo por espaço, dignidade, reconhecimento, oportunidades e
respeito a nossa identidade. Suas obras evidenciam que o racismo é cíclico e
híbrido. Já estamos em outro século. Mas milhares de Carolinas ainda se
encontram à margem da sociedade, nas periferias, no subemprego, debaixo dos
viadutos, nos presídios, nos hospícios, e na luta diária para vencer a fome.
Por isto, sua voz não se cala. E ela vive. Os "quartos de despejo"
triplicaram. O Brasil precisa conhecer a força de Carolina e a sua
realeza".
A literatura de Carolina Maria de
Jesus só foi redescoberta na década de 90, graças ao pesquisador
brasileiro José Carlos Sebe Bom Meihy e do norte-americano Robert Levine.
No exterior, porém, ela nunca deixou de ser lida e estudada, sobretudo nos EUA,
onde QUARTO DE DESPEJO, traduzido como Child of the Dark, é utilizado nas escolas. A
peça apresenta três momentos cruciais na vida da escritora: sua estadia na
favela que resultou nos diários, a ascensão literária que a tornou um fenômeno
editorial de vendas e o seu esquecimento total. Quarenta anos após a sua morte,
o Brasil retorna a olhar para as palavras de Carolina que profetizara: "ninguém vai apagar as palavras que eu
escrevi."
Sobre a atriz
Cyda Moreno é atriz desde 1983,
professora formada em Licenciatura em Artes Cênicas pela
UNIRIO/UFMG, Mestre em ensino de Artes Cênicas na Educação Pública
(UNIRIO) e produtora cultural. É professora de artes da rede estadual de
ensino. Dirigiu e coordenou ensino de teatro em projetos sociais, de 1989
a 2010, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Dirigiu
e coordenou o ensino de teatro na ONG SPECTACULU, de Gringo Cardia e Marisa
Orth, por cinco anos.A atriz já trabalhou com renomados diretores teatrais,
entre eles: Antunes Filho, (projetos Macunaíma e Xica da Silva) Ulysses
Cruz, Renato Borghi, Yara de Novaes, André Paes Leme, Maurício Abud, Antônio
Pedro, Edio Nunes, Vilma Melo, entre outros.
Sobre Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em
Sacramento, Minas Gerais, em 1914. É considerada uma das primeiras e mais
importantes escritoras brasileiras negras do Brasil. Viveu em São Paulo, na
extinta favela do Canindé – essa experiência resultou no Best Seller
"Quarto de Despejo", publicado em 1960 quando o jornalista Daulio
Dantas, fazendo uma matéria na região, descobriu os manuscritos da então
escritora. Carolina era um ser diferente para muitos. Quando confrontada,
ameaçava os moradores dizendo que iria colocá-los no seu diário. Tamanho foi o
incômodo e susto quando eles se viram dentro da obra literária, sendo lidos
pelo mundo. A repercussão direcionou, talvez pela primeira vez, o
olhar para o favelado – fez com que a favela do Canindé fosse extinta e
moradores ganharam casa de alvenaria. Com a publicação do livro, Carolina viveu
uma experiência de estrela de cinema: jantares, bailes, convites para o
exterior, visita ao Rio no Copacabana Palace... matérias nas revistas e jornais
mais importantes do mundo. Entretanto, depois do boom literário,
ela não conseguiu mais prover sua vida, e voltou a catar papel. Até hoje,
ela desperta fascínio e polêmica: alguns citam que sua obra é literatura,
outros negam (citando o ocorrido na Academia Brasileira de Letras). Sua
obra tem sido estudada por acadêmicos e biógrafos, virou peça de teatro com
direção de Amir Haddad, com Ruth de Souza fazendo Carolina. Zezé Motta também
viveu esse papel num curta- metragem de Jeferson De. A Alemanha também
apresentou interesse e realizou um documentário dirigido por Christa
Gottman-Elter. No Rio de Janeiro, atualmente três produções
simultâneas em teatro abordam a escritora: DIÁRIO DE BITITA, com Andreia
Ribeiro, CAROLINA: O LUXO DO LIXO, com Wilson Rabelo e agora EU AMARELO com
Cyda Moreno. No exterior, a obra dela continua sendo lida por estudantes. Agora
no Brasil, algumas escolas estão aderindo ao livro e redescobrindo a
escritora que foi apagada. Depois de voltar ao anonimato, Carolina destacava a
experiência do sucesso e do assédio com a seguinte frase: "tenho a sensação que sou ferro banhado a ouro. E um
dia o banho de ouro esmaece e eu volto a minha origem natural: o ferro".
Ficha Técnica:
Com Cyda Moreno
Com Cyda Moreno
Dramaturgia: Elissandro de Aquino
Direção: Isaac Bernat
Assistentes de Direção: Bebel Ribeiro e Camila Monteiro
Cenário: Sergio Marimba
Figurino: Margo Margot
Iluminação: Aurélio de Simoni
Preparador Vocal: Jorge Maya
Direção de Movimento: Cátia Costa
Fotografia: Edu Monteiro
Assessoria de Imprensa: Cláudia Tisato
Design: Claudio PartesProdução: Viramundo
Serviço:
Evento: Eu amarelo: Carolina Maria de Jesus
Data: de 07 de setembro a 23 de setembro de 2018 (sexta, sábado
e domingo)
Horário: às 19 horas
Local: SESC II – Tijuca Endereço: Rua Barão de Mesquita,
539
Telefone: (21) 3238-2139
Valor: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada), R$ 7,50 (associado
SESC)
Lotação: 50 lugares
Duração: 50 minutos
Classificação: 16 anos
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