sábado, 1 de setembro de 2018

Dica de peça teatral: "EU AMARELO"



Olá encaracoladas(os)!
Se liguem nesta maravilhosa dica cultural para quem mora no Rio de Janeiro:



"Eu amarelo": nova peça sobre a ex-catadora de papel que se transformou na maior escritora negra do país no século XX entrará em cartaz no Sesc Tijuca






Nova peça teatral, com direção de Isaac Bernat, apresenta um retrato contundente da ex-catadora de papel que se transformou na maior escritora negra do país do século XX:  best seller com mais de um milhão de exemplares vendidos, traduzido em 13 idiomas para 80 países. Carolina Maria de Jesus devotava a sua vida a um propósito: seu amor à literatura que a fez tirar do lixo as palavras, e das palavras, uma forma de combater as desigualdades do mundo.  Não é à toa que Carlos Drummond de Andrade a considerou "a mais necessária e visceral flor do lodo".

O livro "Quarto de Despejo" serviu de base para a adaptação teatral e evidencia as inquietudes sociais e as experiências emocionais de quem vive na falta, também aponta a trajetória ímpar da escritora que deixou mais de 4.500 páginas em seus manuscritos, ainda à espera de publicação.  O texto, com dramaturgia de Elissandro de Aquino, é composto por fragmentos do amplo legado de Carolina que inspira autores como Conceição Evaristo e Elisa Lucinda.

O diretor Isaac Bernat assumiu o desafio, que segundo ele é uma "responsabilidade e um presente. Neste momento tão desesperançado de nosso país, o exemplo de superação que Carolina nos mostra é um estímulo para que todos os oprimidos e excluídos continuem a acreditar em seus sonhos e desejos. Como diretor, recebo outro presente, que é o de pode contar com a maestria, profundidade e talento de uma atriz como Cyda Moreno. Vamos contar esta historia priorizando o essencial, ou seja, acreditando na força e no poder que o teatro tem de tocar as pessoas. Com a parceria de Sérgio Marimba e Margot Margot, dois artistas visuais viscerais e ousados, vamos construir a beleza deste universo tão duro e ao mesmo tempo tão poético, tudo isto iluminado pela maestria de Aurélio de Simoni".

A atriz Cyda Moreno, que dá voz à Carolina cita que "das entranhas de suas múltiplas misérias,  e de seus múltiplos talentos; da sua fome de comida, de espaço, de justiça, de igualdade e de democracia, Carolina extraiu poesia e lirismo para fazer ressoar as misérias do povo da favela. Sua literatura repleta de erros de grafia, é peculiar, é recheada de palavras rebuscadas e profundas e reflete as inúmeras fomes do nosso povo por espaço, dignidade, reconhecimento, oportunidades e respeito a nossa identidade. Suas obras evidenciam que o racismo é cíclico e híbrido. Já estamos em outro século. Mas milhares de Carolinas ainda se encontram à margem da sociedade, nas periferias, no subemprego, debaixo dos viadutos, nos presídios, nos hospícios, e na luta diária para vencer a fome. Por isto, sua voz não se cala. E ela vive. Os "quartos de despejo" triplicaram. O Brasil precisa conhecer a força de Carolina e a sua realeza".

A literatura de Carolina Maria de Jesus só foi redescoberta na década de 90, graças ao pesquisador brasileiro José Carlos Sebe Bom Meihy e do norte-americano Robert Levine. No exterior, porém, ela nunca deixou de ser lida e estudada, sobretudo nos EUA, onde QUARTO DE DESPEJO, traduzido como Child of the Dark, é utilizado nas escolas. A peça apresenta três momentos cruciais na vida da escritora: sua estadia na favela que resultou nos diários, a ascensão literária que a tornou um fenômeno editorial de vendas e o seu esquecimento total. Quarenta anos após a sua morte, o Brasil retorna a olhar para as palavras de Carolina que profetizara: "ninguém vai apagar as palavras que eu escrevi."

Sobre a atriz 
Cyda Moreno é atriz desde 1983, professora formada em Licenciatura em Artes Cênicas pela UNIRIO/UFMG, Mestre em ensino de Artes Cênicas na Educação Pública (UNIRIO) e produtora cultural.  É professora de artes da rede estadual de ensino. Dirigiu e coordenou ensino de teatro em projetos sociais, de 1989 a 2010, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Dirigiu e coordenou o ensino de teatro na ONG SPECTACULU, de Gringo Cardia e Marisa Orth, por cinco anos.A atriz já trabalhou com renomados diretores teatrais, entre eles: Antunes Filho, (projetos Macunaíma e Xica da Silva) Ulysses Cruz, Renato Borghi, Yara de Novaes, André Paes Leme, Maurício Abud, Antônio Pedro, Edio Nunes, Vilma Melo, entre outros.

Sobre Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 1914. É considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras brasileiras negras do Brasil. Viveu em São Paulo, na extinta favela do Canindé – essa experiência resultou no Best Seller "Quarto de Despejo", publicado em 1960 quando o jornalista Daulio Dantas, fazendo uma matéria na região, descobriu os manuscritos da então escritora. Carolina era um ser diferente para muitos. Quando confrontada, ameaçava os moradores dizendo que iria colocá-los no seu diário. Tamanho foi o incômodo e susto quando eles se viram dentro da obra literária, sendo lidos pelo mundo. A repercussão direcionou, talvez  pela primeira vez,  o olhar para o favelado – fez com que a favela do Canindé fosse extinta e moradores ganharam casa de alvenaria. Com a publicação do livro, Carolina viveu uma experiência de estrela de cinema: jantares, bailes, convites para o exterior, visita ao Rio no Copacabana Palace... matérias nas revistas e jornais mais importantes do mundo. Entretanto, depois do boom literário, ela não conseguiu mais prover sua vida, e voltou a catar papel. Até hoje, ela desperta fascínio e polêmica: alguns citam que sua obra é literatura, outros negam (citando o ocorrido na Academia Brasileira de Letras).  Sua obra tem sido estudada por acadêmicos e biógrafos, virou peça de teatro com direção de Amir Haddad, com Ruth de Souza fazendo Carolina. Zezé Motta também viveu esse papel num curta- metragem de Jeferson De. A Alemanha também apresentou interesse e realizou um documentário dirigido por Christa Gottman-Elter. No Rio de Janeiro, atualmente três produções simultâneas em teatro abordam a escritora: DIÁRIO DE BITITA, com Andreia Ribeiro, CAROLINA: O LUXO DO LIXO, com Wilson Rabelo e agora EU AMARELO com Cyda Moreno. No exterior, a obra dela continua sendo lida por estudantes. Agora no Brasil, algumas escolas estão aderindo ao livro e redescobrindo a escritora que foi apagada. Depois de voltar ao anonimato, Carolina destacava a experiência do sucesso e do assédio com a seguinte frase: "tenho a sensação que sou ferro banhado a ouro.  E um dia o banho de ouro esmaece e eu volto a minha origem natural: o ferro".

Ficha Técnica:
Com Cyda Moreno
Dramaturgia: Elissandro de Aquino
Direção: Isaac Bernat
Assistentes de Direção: Bebel Ribeiro e Camila Monteiro
Cenário: Sergio Marimba
Figurino: Margo Margot
Iluminação: Aurélio de Simoni
Preparador Vocal: Jorge Maya
Direção de Movimento: Cátia Costa
Fotografia: Edu Monteiro
Assessoria de Imprensa: Cláudia Tisato
Design: Claudio PartesProdução: Viramundo

Serviço:
Evento: Eu amarelo: Carolina Maria de Jesus
Data: de 07 de setembro a 23 de setembro de 2018 (sexta, sábado e domingo)
Horário: às 19 horas
Local: SESC II – Tijuca  Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539
Telefone: (21) 3238-2139
Valor: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada), R$ 7,50 (associado SESC)
Lotação: 50 lugares
Duração: 50 minutos
Classificação: 16 anos




Mais fotos da peça: 









Não foi dessa vez!




Apesar de ter uma obra literária consistente, reconhecida nacional e internacionalmente, a escritora Conceição Evaristo não foi eleita para ocupar a cadeira 7 da ABL. A instituição escolheu o cineasta Cacá Diegues. Mas, continuaremos na torcida por representatividade na Academia Brasileira de Letras! E vc? O que achou? 


quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Conceição Evaristo poderá ser a primeira negra a ocupar uma cadeira na ABL




Conceição Evaristo poderá ser a primeira negra a ocupar uma cadeira na ABL

O dia 30 de agosto de 2018 pode vir a ser a data de um marco. Amanhã, a Academia Brasileira de Letras poderá eleger a primeira negra a ocupar uma cadeira, especificamente a cadeira de número 7, que tem como patrono Castro Alves, conhecido como “Poeta dos Escravos”. É a esse lugar que Conceição Evaristo concorre.

A escritora Conceição Evaristo é uma das mais reconhecidas autoras negras do Brasil, tendo recebido, em 2015, o Prêmio Jabuti de Literatura, pelo livro “Olhos D`Água”, na categoria Contos e Crônicas.

A presença dela na ABL representará um reconhecimento de nosso espaço também no meio literário, pois cada vez mais mulheres negras estão marcando presença em espaços de destaque, representação e liderança.


BIOGRAFIA DA ESCRITORA:
Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, em 1946. De origem humilde, migrou para o Rio de Janeiro na década de 1970. Graduada em Letras pela UFRJ, trabalhou como professora da rede pública de ensino da capital fluminense. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996), e Doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011), na qual estuda as obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira em confronto com a do angolano Agostinho Neto.

Participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país, estreou na literatura em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na série Cadernos Negros. Escritora versátil, cultiva a poesia, a ficção e o ensaio. Desde então, seus textos vêm angariando cada vez mais leitores. A escritora participa de publicações na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Seus contos vêm sendo estudados em universidades brasileiras e do exterior, tendo, inclusive, sido objeto da tese de doutorado de Maria Aparecida Andrade Salgueiro, publicada em livro em 2004, que faz um estudo comparativo da autora com a americana Alice Walker. Em 2003, publicou o romance Ponciá Vicêncio, pela Editora Mazza, de Belo Horizonte.

Com uma narrativa não-linear marcada por seguidos cortes temporais, em que passado e presente se imbricam, Ponciá Vicêncio teve boa acolhida de crítica e de público. O livro foi incluído nas listas de diversos vestibulares de universidades brasileiras e vem sendo objeto de artigos e dissertações acadêmicas. Em 2006, Conceição Evaristo traz à luz seu segundo romance, Becos da memória, em que trata, com o mesmo realismo poético presente no livro anterior, do drama de uma comunidade favelada em processo de remoção. E, mais uma vez, o protagonismo da ação cabe à figura feminina símbolo de resistência à pobreza e à discriminação. Em 2007, sai nos Estados Unidos a tradução de Ponciá Vicêncio para o inglês, pela Host Publications. Vários lançamentos são realizados, seguidos de palestras da escritora em diversas universidades norte-americanas. Já sua poesia, até então restrita a antologias e à série Cadernos Negros, ganha maior visibilidade a partir da publicação, em 2008, do volume Poemas de recordação e outros movimentos, em que mantém sua linha de denúncia da condição social dos afrodescendentes, porém inscrita num tom de sensibilidade e ternura próprios de seu lirismo, que revela um minucioso trabalho com a linguagem poética.

Em 2011, Conceição Evaristo lançou o volume de contos Insubmissas lágrimas de mulheres, em que, mais uma vez, trabalha o universo das relações de gênero num contexto social marcado pelo racismo e pelo sexismo. Em 2013, a obra antes citada Becos da memória ganha nova edição, pela Editora Mulheres, de Florianópolis, e volta a ser inserida nos catálogos editoriais literários. No ano seguinte, a escritora publica Olhos D’água, livro finalista do Prêmio Jabuti na categoria “Contos e Crônicas”. Já em 2016, lança mais um volume de ficção, Histórias de leves enganos e parecenças.

Nos últimos anos, três de seus livros, que continuam recebendo novas edições no Brasil, foram traduzidos para o Francês e publicados em Paris pela editora Anacaona. Em 2017, o Itaú Cultural de São Paulo realizou a Ocupação Conceição Evaristo contemplando aspectos da vida e da literatura da escritora. No contexto da exposição, foram produzidas as Cartas Negras, retomando um projeto de troca de correspondências entre escritoras negras iniciado nos anos noventa. Em 2018, a escritora recebeu o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra.
*fonte: www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/188-conceicao-evaristo*


OBRAS

Romance
Ponciá Vicêncio (2003)
Becos da Memória (2006)

Poema
Poemas da recordação e outros movimentos (2017)

Contos
Insubmissas lágrimas de mulheres (Editora Malê, 2016 )
Olhos d`água (Editora Pallas, 2014) .
Histórias de leves enganos e parecenças (Editora Malê, 2016)

Participações em antologias
Cadernos Negros (Quilombhoje, 1990)
Contos Afros (Quilombhoje)
Contos do mar sem fim (Editora Pallas)
Questão de Pele (Língua Geral)
Schwarze prosa (Alemanha, 1993)
Moving beyond boundaries: international dimension of black women’s writing (1995)
Women righting – Afro-brazilian Women’s Short Fiction (Inglaterra, 2005)
Finally Us: contemporary black brazilian women writers (1995)
Callaloo, vols. 18 e 30 (1995, 2008)
Fourteen female voices from Brazil (EUA, 2002), Estados Unidos
Chimurenga People (África do Sul, 2007)
Brasil-África
Je suis Rio, éditions Anacaona, juin 2016.

Obras publicadas no exterior
Ponciá Vicencio. Trad. Paloma Martinez-Cruz, Austin: Host Publications, 2007. ISBN 0-978-0-924047-34-3
L'histoire de Poncia, traduzido por Paula Anacaona, collection Terra, éditions Anacaona. 2015. ISBN 978-2-918799-75-7
Banzo, mémoires de la favela, traduzido por Paula Anacaona, collection Terra, éditions Anacaona. 2016. ISBN 978-2-918799-80-1


terça-feira, 28 de março de 2017

De crespa para crespa: a nova Miss São Paulo também ostenta um black poderoso!



Minhas encaracoladas, tudo bem?

No último sábado (25/03) aconteceu o concurso Miss São Paulo 2017. E para a nossa alegria a coroa ficou novamente com uma crespa linda, a candidata Karen Porfiro.

Karen é dona de uma cabeleira crespa lindíssima e assim como a Miss São Paulo anterior, Sabrina de Paiva, tem orgulho de seus traços e de sua etnia. 

A coroa passou de uma negra de cabelos crespos para outra negra de cabelos crespos, fato inédito na história dos concursos de beleza no Brasil. Uma demonstração de que os padrões de beleza antes europeizados (cabelos lisos, traços finos, pele e olhos claros) estão dando lugar à democratização da beleza e levando em consideração os diferentes tipos de etnias que temos em nosso país. 

Acabar com padrões de beleza pré-estabelecidos, em um país ainda racista como o Brasil, é um grande avanço. Hoje, meninas e mulheres negras começam a ter referências, começam a se olhar no espelho e se amar do jeito que são. Antigamente nós crescíamos numa sociedade que nos impunha o tempo todo que ter cabelo crespo, pele negra e traços mais grossos era estar condenada à feiura, ao que é renegado, ao que ninguém quer, ao preterido.

Agora não é mais assim. E somos nós que estamos promovendo essa mudança. Isso não é só sobre beleza ou sobre um simples concurso de beleza, a questão é muito mais profunda. Ela está enraizada na sociedade, mas com muita resistência e consciência começamos a promover e ver as mudanças. Num país que respeita as diferenças, todos saem ganhando. Todos podem ser quem são, com respeito mútuo e fica ainda mais prazeroso viver. Para mim, para você, para todos nós.


Sobre o concurso:

O evento tinha como tema este ano o empoderamento feminino e começou com as 20 candidatas subindo ao palco segurando placas com os dizeres "Nenhuma a menos", "Liberdade", "Uma por todas e todas por uma", entre outras frases usadas pela luta da igualdade e do respeito às mulheres.

Foto: Deividi Correa / AgNews

Foto: Renata DAlmeida / Ego

Foto: Renata DAlmeida / Ego

Foto: Cláudio Augusto / Brazil News

Foto: Renata DAlmeida / Ego

Foto: Deividi Correa / AgNews